terça-feira, 16 de junho de 2009

SENHORA



Penso em seu olhar
Me perco em sonhos
E o teu sorriso é a linda nau
Que me conduzirá a um negro e infinito oceano
No qual quero me afogar quantas vezes for possível
E nálfraga sonhadora quero desbravar a ilha nunca antes habitada
Buscando vestígios e promessas, abrigo e paz
E sendo senhora da ilha, contempladora de um vasto oceano
Perdida em um mundo que pertence somente a nós
Sinto-me amor e me ofereço a ti.

sábado, 13 de junho de 2009

O SÍTIO



Eu me sentia com uma estranha sensação, uma vontade de mim, algo pedia uma auto-análise, para saber até onde exatamente eu me conhecia.


Nesta manhã fria e chuvosa vim para este sítio, este local raramente usado, pertence a um casal amigo e quando revelei minha vontade de passar um período reclusa, ofereceram-me o lugar que caiu como uma luva.


E agora, aqui neste ambiente afastado de toda adrenalina e rotina da civilização, sinto-me inquieta, o sítio de meus estimados amigos é um lugar bastante acolhedor, e com o passar das horas observo também o seu aspecto sombrio, sua decoração rústica, seus quadros com rostos desconhecidos, figuras com olhos inquiridores que despertam um certo pavor em mim.


Isto se agravava ao anoitecer, quando a pouca iluminação das velas dominam o ambiente nebuloso, os olhos daqueles quadros me fitavam, aumentando minha vontade de tira-los da parede e esconde-los enquanto durasse minha permanência ali, mas contive-me e comecei a degustar uma taça de vinho perdida em pensamentos desalinhados. De repente ouvi passos, assustei-me pois estava a quilômetros de distância da civilização, o que se sucedeu a seguir foi algo inexplicável.


Uma figura que eu nunca tinha visto antes, veio caminhando na minha direção, eu fiquei estarrecida pois havia trancado todas as portas e janelas. A minha visitante inesperada sentou-se na poltrona posicionada a minha frente e com um desdém impressionante me olhou.
Eu continuei paralisada, observando os traços irônicos que se formavam no rosto de minha visitante, ela tinha um olhar penetrante, era muita pálida e sem dúvida era uma visão assustadora.


Cogitei que fosse uma assombração, mas afastei esse pensamento, temendo ser real, abaixei a cabeça e olhei para minhas mãos tremulas e de imediato veio uma reação; 
— Não me reconheces? Afinal há tanto tempo assim não me vês? — Disse a figura irritada. Observei minha visitante novamente, tentando lembrar se já a conhecia.
Ela iniciou uma sonora gargalhada, levantando-se da poltrona e caminhando em minha direção, sua fisionomia modificava-se a cada passo, perplexa me vi diante de meu próprio reflexo, e descobri que eu era minha algoz.


— Pobre menina indefesa, sem vida, sem atitude, ou retorna a vida ou te arrasto para um poço de lamúria e dor, onde desfalecerás aos poucos.— ela dizia quase penetrando por mim, através de meus olhos encharcados de lágrimas.


Os quadros ganharam vida e repetiam tudo que a intrusa falava, como ecos sombrios, eu estava em panico, com toda aquela imagem inacreditável e surreal, caí, ouvindo somente os ecos do além.
Na manhã seguinte seguinte acordei no sofá, e preferi acreditar que tudo não passara de um pesadelo, porém não me atrevi a continuar no sítio, voltei correndo para os braços da civilização e para minha rotina ciente de que um encontro comigo mesma é algo tão assustador, o meu pior pesadelo.


A verdade neste caso é inaudível e me aterroriza, continuo aqui definhando esporadicamente, as vozes do além ainda me assombram, como se eu nunca tivesse saído do sítio e por minha vez, eu ainda me sinto lá.