quarta-feira, 18 de março de 2009

SAUDADES



Quem nunca sentiu saudades de sua infância? Percebo o quanto nossas crianças estão perdendo, vivem presas em telas de computadores, aliciadas à uma realidade virtual e irreal, ou as de televisões, onde, quando não estão vidradas em jogos violentos, estão admirando figuras horrendas e maliciosas. Pergunto-me o que aconteceu com a peteca, as queimadas e o futebol ? Ou se preferir as peladas, onde toda a vizinhança se reunia, em um tipo de confraternização infantil disfarçada, o que aconteceu com os livros? que tanto atiçavam a fértil imaginação, e os finais de semana no sítio? Onde conheciam um novo mundo, cheio de aventuras e descobertas.
Parece trágico, mas existem crianças que nem sabem o que realmente é brincar, e adultos que não tiveram infância, lembro-me de tanta felicidade, tanto amor, a proteção familiar, que é sempre mais acentuada nesta fase de nossa existência, são os dias que ficam em nossa memória, e mesmo na velhice, deles lembraremos com ternura e saudades, Casimiro de Abreu descreveu com louvor inigualável a saudade que faz a infância e as memórias que carregamos, herança dos dias de nossa inocência.



MEUS OITO ANOS


Casimiro de Abreu


Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais

Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais.

Como são belos os dias
Do despontar da existência
Respira a alma inocência,
Como perfume a flor;
O mar é lago sereno,
O céu um manto azulado,
O mundo um sonho dourado,
A vida um hino de amor !


Que auroras, que sol, que vida
Que noites de melodia,
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar
O céu bordado de estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !


Oh dias de minha infância,
Oh meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delicias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha, irmã !


Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Pés descalços, braços nus,
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!



Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas
Brincava beira do mar!
Rezava as Ave Marias,
Achava o céu sempre lindo
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar !




Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da, minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

3 comentários:

  1. O máximo, uma viagem no passado!!!

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  2. Que lindo !!!Que alma linda !

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  3. Parabens minha querida Polyana.

    Vejo que também aprecia nosso poeta que agora nos é comum. Vejo que sua mente paseia pela infância dos nossos oito anos. Mas ate´ai nossas crianças serão sempre iguais, muda o lugar, muda o tempo mas não mudará a poesia e o amor.

    Anfermam

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